Naturalismo e realismo, entenda!

Em Dicas de estudos por André M. Coelho

O realismo e o naturalismo são uma reação contra o romantismo (imaginação, poesia e prosa, bem como os principais temas: natureza, exotismo, história e heróis descritos como indivíduos excepcionais) porque se pensava que ele havia perdido o contato com o contemporâneo. Para entender esses movimentos, é preciso compreender melhor a sociedade do século XIX.

As revoluções que precederam o naturalismo e realismo

Três revoluções ocorreram durante o século XIX: a revolução industrial, a revolução científica e a revolução moral.

A revolução industrial

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A Revolução Industrial foi iniciada pela invenção da máquina a vapor (carvão, ferrovias, fábricas). Tudo isso aconteceu nas cidades: o aumento da população levou a miséria e problemas sociais como alcoolismo, tuberculose, prostituição. Houve uma mudança de uma crença no progresso para um pessimismo crescente.

A revolução científica

A revolução científica se expandiu na revolução dos transportes, iniciada pelo motor a vapor. O mundo estava mudando extremamente rápido. Auguste Comte está na origem de uma teoria filosófica chamada Positivismo. Ele criou a “lei dos três estágios”: (1) o teológico, (2) o metafísico e (3) o positivo.

A fase teológica do homem foi baseada na crença de todo coração em todas as coisas com referência a Deus. Comte diz que Deus reinou supremo sobre a existência humana antes do Iluminismo. O lugar da humanidade na sociedade era governado por sua associação com as presenças divinas e com a igreja. A fase teológica lida com a aceitação da humanidade pelas doutrinas da igreja (ou local de culto), em vez de confiar em seus poderes racionais para explorar questões básicas sobre a existência.

Comte descreve a fase metafísica da humanidade como o tempo desde o Iluminismo, um tempo mergulhado no racionalismo lógico, até o momento imediatamente após a Revolução Francesa. Esta segunda fase afirma que os direitos universais da humanidade são mais importantes. A idéia central é que a humanidade seja investida de certos direitos que devem ser respeitados. Nesta fase, democracias e ditadores cresceram e caíram na tentativa de manter os direitos inatos da humanidade.

O estágio final da trilogia da lei universal de Comte é o estágio científico, ou positivo. A ideia central dessa fase é que os direitos individuais são mais importantes que a regra de qualquer pessoa. A ciência é fundamental e pode dar ao homem conhecimento e poder absolutos.

A revolução moral

A revolução moral marcou o fim da hipocrisia da moralidade vitoriana. Na Origem das Espécies (1859), Darwin sugeriu pela primeira vez que o homem descendia dos macacos: não havia necessidade de Deus, apenas uma luta pela vida (“sobrevivência dos mais aptos”). Darwin influenciou Marx (comunismo e guerra de classes) e Nietsche (visão do super-homem).

Conflitos e lutas definem o futuro da sociedade. Foi um período de intensa filosofia e mudanças morais e científicas.

Realismo e naturalismo

O realismo na literatura descrevia o que era real, enquanto o naturalismo prezava pela natureza. (Foto: www.paintinghere.com)

Realismo: características

Realismo é o fato de ser fiel à realidade. Foi um movimento longe da ilusão romântica, a fim de se aproximar da realidade social e psicológica da época. É a crença de que pode haver uma correspondência entre a realidade e sua representação.

A realidade é um assunto: a vida das pessoas comuns em situações comuns – por exemplo, a classe média burguesa como pessoas excepcionais não é realista. Balzac falou sobre todas as classes da sociedade, mas muitas vezes ele selecionou.

A realidade também é uma questão de verossimilhança: como os personagens são determinados por seu ambiente, narrativas cronológicas, dimensão psicológica dos personagens, presença de um narrador onisciente.

Naturalismo: características

O naturalismo é uma forma extrema de realismo literário, baseada na crença de que a ciência poderia explicar todos os fenômenos sociais e deveria fornecer o método para a criação da literatura. Ao contrário do realismo, que foi um movimento bastante solto, constituiu uma verdadeira escola de pensamento em torno de seu fundador, o francês Emile Zola. Seus princípios principais foram o determinismo absoluto e materialismo e as ciências naturais como modelo metodológico

Sem livre arbítrio: o homem é determinado por circunstâncias além de seu comando (instintos, ambientes, hereditariedade; portanto, a maioria dos romances naturalistas toma a forma de tragédias sociais e psicológicas. A civilização é apenas um verniz: sob a influência do estresse, do desejo sexual ou do álcool, o homem reverte para a animalidade.Esta concepção de vida é obviamente muito pessimista, pois a vida e a vontade individual são vistas como sem sentido.

Como o método científico é o modelo para a criação literária, o escritor naturalista não deve usar sua imaginação, mas apenas pesquisar e registrar fatos – sociais, biológicos, psicológicos. Eles geralmente faziam uma extensa pesquisa preparatória antes de escrever. Como um cientista médico, o escritor faz experimentos e observa os resultados: depois de definir os personagens em uma determinada situação e ambiente, eles observam suas reações. De certa forma, eles visam dissecar a mente humana e o corpo.

Como o objetivo deles é descrever a realidade social “objetivamente” e negar as reivindicações da imaginação, sua ênfase não estava na forma, mas no conteúdo. A escolha do assunto costumava ser das classes mais baixas, com o objetivo de denunciar o estado da sociedade; eram frequentemente acusados ​​de selecionar os aspectos mais sórdidos da natureza humana (vício, violência …). A trama era na maioria das vezes apresentada cronologicamente (insistência no determinismo de causas e efeitos) e poderia, nos piores casos, ser muito vagamente construída, a partir de um certo descuido quanto ao efeito estético. A impressão de objetividade era frequentemente obtida por meio de longas descrições, que tentam ilustrar a interação entre o homem e seu ambiente, e através do uso de um narrador onisciente e distanciado, cuja intervenção às vezes se limitava à focalização externa. O estilo às vezes era desigual e desajeitado.

Tudo isso se enquadra na definição de Zola da obra de arte: “Uma obra de arte é uma moeda da natureza que atravessa um clima”.

As críticas ao realismo

O realismo e o naturalismo baseiam-se nas premissas de que a realidade pode ser conhecida (ciência como conhecimento total) e pode ser representada objetivamente (transparência do meio). Daí a sua proximidade com as ciências sociais e psicologia (realismo) e com a biologia (naturalismo). Esses movimentos visavam representar a sociedade como ela é, geralmente com uma intenção crítica. Os maiores problemas teóricos enfrentados pelo realismo foram os da definição de “realidade” e da possibilidade de “objetividade”.

Um artista nunca pode ser completamente “objetivo” e transcrever a “realidade” como é. Um temperamento é a subjetividade do artista, expressa em uma escolha de assunto e uma escolha de tratamento. Por que escolher apenas a classe média ou os pobres? Pessoas excepcionais ou a aristocracia também fazem parte da realidade. Finais felizes podem ser tão fiéis à vida quanto as tragédias naturalistas.

Outra reação contra as restrições do realismo foi encontrada no movimento chamado Esteticismo, que associava o realismo a uma perspectiva burguesa (capitalista, racional, moralmente convencional) e retratavam a realidade da vida refinada como a das sensações e dos sentimentos. imaginação.

No final do século 19, a ciência passou por mudanças drásticas, que questionaram sua capacidade de imaginar a “realidade” como ela é.

A filosofia de William James na América, conhecida como Pragmatismo, declarou que, tanto na ciência quanto na psicologia, o conhecimento dependia de pontos de vista particulares e que nenhuma teoria é capaz de explicar completamente a realidade. Essa concepção teve uma forte influência em seu irmão Henry James, o romancista.

A teoria psicanalítica de Freud afirmou que o inconsciente permanece para sempre ilusório: a consciência nunca pode ser completa. A fronteira entre normalidade e loucura é mal definida, de modo que todos reconstruímos a realidade de acordo com nossas obsessões: conhecimento absoluto e objetividade total são impossíveis.

A teoria da relatividade de Einstein, que ligava indissoluvelmente tempo e espaço, também deduziu que as leis da física são relativas na dimensão em que pertencemos. O nível subatômico obedece a regras diferentes, conforme expresso no princípio de indeterminação de Eisenberg.

Autores do realismo e do naturalismo

No Brasil, podemos destacar alguns autores e suas obras no realismo e naturalismo. Aluísio Azevedo talvez seja o maior nome e expoente do movimento, pois foi o responsável por dar o início ao naturalismo com sua obra O Mulato. São também obras do autor Casa de Pensão e O Cortiço. Adolfo Ferreira Caminha também foi um grande nome desse movimento, com sua obra A Normalista.

Realismo e Naturalismo: semelhanças e diferenças

Embora sejam dois movimentos literários separados, realismo e naturalismo foram, às vezes, usados ​​como termos intercambiáveis, compartilhando algumas semelhanças profundas:

1) São visões “básicas” da vida e da humanidade, retirando as camadas do romantismo para apresentar uma perspectiva “natural” ou “real” da obra. Eles se recusam a idealizar ou lisonjear o assunto. Eles evitam elementos artificiais, de fantasia ou sobrenaturais.

2) Ambas as visões pessimistas surgiram no século 19, um período conhecido por suas provações e turbulências.

3) Deus está ausente da maioria dos escritos em qualquer categoria, com escritores optando por um foco no mundo real.

Mas, apesar dessas semelhanças, esses dois movimentos literários são separados por:

1) O realismo procurava ser uma representação fiel da vida, enquanto o naturalismo era mais como uma “crônica de desespero”. De certa forma, o naturalismo procedeu do realismo e pode ser visto como uma forma exagerada de realismo; mostra que os seres humanos são determinados pelo ambiente, hereditariedade e condições sociais além de seu controle e, portanto, um pouco impotentes para escapar de suas circunstâncias.

2) Enquanto no realismo o foco principal era a classe média e seus problemas, o naturalismo frequentemente se concentrava em personagens com pouca educação ou classe baixa e em temas que envolviam atividades de violência e tabu.

3) Enquanto no realismo, é importante uma representação fiel da realidade, incluindo os detalhes da natureza, no Naturalismo, a própria natureza é uma força, geralmente um mecanismo poderoso e indiferente.

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Sobre o autor

Autor André M. Coelho

André é formado em pedagogia, já tendo dado aulas na educação infantil e atuado como professor e coordenador de cursos de inglês. Entendendo como funciona o processo de aprendizagem, decidiu escrever para o blog Provas Discursivas. Assim, compartilha postagens sobre métodos de estudo, provas, redações, escrita, concursos e muito mais para ajudar seus leitores a aprenderem.

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